Palhaço Poeta
segunda-feira, 12 de abril de 2021
1º TENENTE.
segunda-feira, 5 de abril de 2021
SANGUE AZUL
E como disse eu já tinha ido a vários dermatologistas e só esse último me pediu a biópsia. Esse médico, quer dizer, essa doutora provou que sua nota, nas provas finais, não foi dez ou não teria suspeitas quanto à cor da pintinha. Um daqueles médicos que disseram que a pinta não era câncer me falou, meses depois da remoção do sinal, que o "nevo azul", como chamam a pinta, não passa de uma alteração benigna da pele que não coloca em risco a vida de ninguém. Por isso, não sugere a remoção, disse ele, mesmo concordando que existem alguns casos em que a células malignas pode surgir no local, mas isso não é comum a não ser quando o "nevo azul" é muito grande ou aumenta de tamanho rapidamente. O que não era o meu caso.
segunda-feira, 29 de março de 2021
VERATRUM.
segunda-feira, 22 de março de 2021
AÍ, COMO EU ESTAVA CONTANDO
Você diz que eu só falo sacanagem, ou, no mínimo, pensando em coisa parecida. Talvez esteja certa, porque negar não espere porque não vou. Não vou porque a felicidade que encontrei estava exatamente no maravilhoso mundo do faz de conta. Quanto ao real, ao mundo real, nele os seus habitantes me levam a crer que a honra não está nos sonhos do homem ou nas fantasias que cria, muito menos no respeito por outras pessoas. Talvez eu até seja um cara doente, na concepção de alguns, e mesmo que tenham certeza, por favor, não me indiquem a um tratamento, pois se o fizerem serão injustos com os que se dizem normais já que pensam, agem e se portam de maneira pior que a minha, como fazem alguns religiosos. Não aponto à maioria, mas aos que tiram proveito da fé induzindo fiéis a fazer o que envergonharia o pior cafajeste. Jamais me insinuaria diante dessas pobres pessoas e traí-las em nome de Deus, nem pensar. Não sei como dormem com a consciência pesada como a deles. Subjugar usando cargos ou palavras santas, como fazem alguns, é baixo, vil e só falo porque leio e vejo tevê. Estes sim deveriam ser enfiados em camisa de força e não os que põem cor nas histórias que contam. Esses belos contadores de histórias, aqueles que não cobram para embarcá-lo em sua nave e viajar pelos sonhos mais coloridos, bonitos e seguro como sonham as mulheres de princípios e as que não têm princípio algum. Parem de pensar que todo tratador de porcos come farelo porque não come, mesmo que suje suas botas. Essa categoria de homem não merece o respeito daqueles que contam histórias. Que falam de fadas e gnomo! De príncipe encantado e sapos apaixonados, como eu falo, e falo sem fugir das verdades, por isso protagonizo minhas aventuras. Ninguém nega que 50% do que diz um contador de casos é verdade e os outros 50 também mesmo cobertos de flores ou questionados por quem jamais fez essa viagem. Quando o historiador garante que a mocinha se casa com o mocinho e não com o pistoleiro e o príncipe, que antes do beijo era sapo, se tornará genro do rei, você pode acreditar. Ninguém faz ideia de quanta verdade existe numa história e quantas naqueles que nos apontam o dedo. Portanto, não me tratem por mentiroso porque não sou, quer dizer, muito mentiroso eu não sou e nem para pensar ou só fazer besteira eu vivo. Às vezes eu até faço, não com todos, mas com aquelas pessoas tipo Alice que ao invés de apontar à porta de um sanatório à Lebre e ao Chapeleiro maluco, se entrega totalmente aos que dizem todos além desses dois.
segunda-feira, 1 de março de 2021
BRIZOLINHA
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
AMIGOS PARA SEMPRE.
– Eu não bebo de manhã e você sabe disso – falei para quem me apontando o relógio do microondas dizendo: – são duas da tarde, meu caro. Eu não ficava tanto tempo na cama desde quando mamãe me pegava no colo. Não fosse o maluco querendo derrubar a porta eu ainda estaria dormindo. Cagalizo ergueu a taça, olhou para mim, e virou de uma só vez. Em poucos goles esvaziou a garrafa e só então começou a chorar. Ele chorava, enxugava o nariz e reclamava da mulher, dos filhos e até do patrão falou mal. Disse, entre outras coisas, que Deus não gostava dele ou não teria lhe dado uma cruz tão pesada. Aliás, não só Deus, não gosta de mim como os amigos também não gostam como eu gosto deles – dizia tentando espetar a azeitona fujona com a ponta do palito. Limpou a boca com as costas da mão e se levantou para jogar água na cara. O constrangedor não foi o desabafo ou o vinho que me fez tomar fora de hora, muito menos a cadeira puxada para o lado da minha e o hálito de bebida com azeitona tão junto da minha cara, mas aquela mão cheia de dedos escorregando pelo meu ombro quando foi se sentar. Dizem que eu sou um cara educado, mas não tive como ficar sentado naquele momento. Dei uma desculpa qualquer e fui fazer, não me lembro o quê. Mas o infeliz foi atrás e sobre meu ombro falou-me tão junto à orelha que um arrepio correu-me da nuca aos calcanhares. Dei um salto para frente (eu disse para frente, viu, senhores faladores?) e gritei com ele.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
VALEU JAPA. VALEU!
Quando vejo um caminhão de mudança parado em frente ao meu prédio eu tremo dos pés à cabeça: seria um novo morador nos brindando com sua chegada ou um velho amigo se afastando do aconchego da gente? Ontem, para minha tristeza, a senhora do 501 estava de mudança. Ela, o marido e a filha iam morar em São Paulo, aonde eu havia morado em alguns anos da minha vida. Com certeza que vão fazer falta, principalmente a mulher e a filha. Jamais poderia imaginar que japonês fosse gente tão boa como aquelas duas mulheres. O marido, um sujeito nascido na pobreza de Kamagasaki, era grosseiro com todo mundo. Talvez por conta da infância e da juventude que teve, como me disse a mulher embora tivesse, ele mesmo, falado que iam morar na Liberdade, o bairro mais japonês do Brasil. Meu Deus! O que farei eu, daqui em diante, quando chegar bêbado de madrugada me apoiando nas paredes sabendo que Mikomy, a única filha daqueles dois, já não estaria mais lá embaixo a minha espera para me arrastar para casa, fazer um café forte e me enfiar embaixo do chuveiro frio? É claro que eu só sabia porque ela me contava no dia seguinte, e pelo que eu sei, nem dormir comigo eu penso que tivesse dormido e se o fez eu tenho certeza que não fizemos do jeito que ela merece. A mãe, que diferente do marido era muito risonha, dizia que eu era um bom homem e era pena que vivesse sozinho num momento difícil como esse. Por isso eu sentia dó de Dona Sheraki. Ela deve sofrer o diabo nas mãos daquele gordinho de cara amarrada. O velhote não permitia que saísse nem para ir à padaria se não fosse acompanhada por ele ou pela filha ao passo que ele fazia até mesmo o que achava errado nos outros. Foi lembrando desses momentos que subi para tomar uma, ducha, como faço quando volto das caminhadas, mas ao entrar no meu quarto, ainda secando os cabelos, deparo com Mikomy estirada na minha cama, nua como viera ao mundo, contudo em uma nova edição melhorada. – O que você está fazendo pelada na minha cama, sua maluca e o que você fez para entrar aqui na minha casa se a porta estava trancada, posso saber? – Estou nua, sim, mas você também não está vestindo – disse com as mãos estendidas para mim. Mikomy era a melhor amiga que eu já tive na vida e agora, com ela estirada na minha cama puxando o braço eu entrei em parafuso. Será que eu devia mesmo fazer o que ela parecia ter vindo para fazer sem me arrepender ou era uma boa oportunidade que eu tinha de fazer direito o que bêbado jamais teria feito naquelas circunstância? De repente aquela seria a última oportunidade que nós teríamos de estar junto e como não havia ninguém por perto nos espionando, nada mais justo que fazer por ela o que ela fez por mim durante todo o tempo que morou a duas portas da minha. Muitos se despediram de mim e de muitos eu já me despedi, mas nenhum adeus me doeu tanto como quando Mikomy beijou-me a face, enxugou os olhinhos repuxados e embarcou no carro do pai.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
BOA NOITE CINDERELA.
Hoje eu estou velho e acabado, mas já tive momentos melhores, pelo menos aos olhos da minha mãe e das garotas que gostavam de homens altos, simpáticos e de boa família. E modéstia à parte; esse cara sou eu. Meus amigos também eram bons rapazes ou o pai de um deles não nos teria permitido jogar bola na quadra do seu quintal nos finais de semana. Muitas vezes D. Alice e o marido, donos da quadra e pai e mãe de dois desses garotos, nos chamou para almoçar. O marido se incumbiria da churrasqueira e ela das outras panelas. Sr. Otávio, pai de Otacílio e Otavinho, tinha o dobro da idade dela e talvez por conta disso, repousasse depois do almoço D. Alice sentava com a gente enquanto o marido tirava um cochilo. Nunca, essa senhora, deixou de participar da nossa conversa por mais picante que pudesse parecer. Com ela se falava de tudo e qualquer coisa sem que nos apontasse um dedo ou puxasse a nossa orelha por abordarmos determinados assuntos ou pela maneira de discuti-los. Quando Otavinho, seu filho mais novo aniversariou ela fez uma festa, mas devido a chuva incessante a maioria dos convidados não apareceu. Quando a festa acabou e todos se foram D. Alice nos deu um suco verde com gosto esquisito, tipo mato triturado com água, açúcar e gelo, para beber e como ninguém disse nada eu também nada disse. Tomei o meu e ponto final. A bebida desceu numa boa, pelo menos ninguém se queixou. Infelizmente comigo não funcionou. De repente, assim do nada, me deu um sono tão grande que eu tive de me sentar para não cair e como os filhos já tinham subido para os quartos e deixado a mãe falando o que, certamente já estavam carecas de ouvir, acabei ficando sozinho com ela sentada na minha frente. Eu estava tão mal que pedi que ligasse para o meu pai me buscar. Nem bem terminei a frase e perdi os sentidos. Quando acordei eu estava numa poltrona que ficava num quartinho nos fundos da casa e o pior era que D. Alice estava lá, deitada ao meu lado. Gente, que mulher maluca! – Pensei – e como conseguiu me levar para aquele lugar sem que nos vissem ou será que Sr. Otávio era peça importante naquela engrenagem? Eu já vi muitos casos em que o marido arranjava companhia para a própria mulher. Quando pensei em me levantar D. Alice se mexeu. Chegou os lábios, com aquele cheiro gostoso de menta, tão junto da minha boca que não teve um só fio de cabelo que não ficasse de pé. Certamente para ter certeza que eu dormia. Não dormia, mas fingia. Então ela, com mãos de fada, abriu minha camisa, acariciou os pelos endurecido que nasciam no meu peito, bolinou com a ponta dos dedos o bico dos meus mamilos arrepiados, desceu a mão além do meu umbigo e lá deixou ficar um bom tempo. Tempo suficiente para eu ter certeza que pensar e falar sacanagem não é pecado. Pecado é a pessoa, tantos anos depois, me chamar de safado sem mesmo ter conhecido a coragem de uma bondosa senhora que, com seu marido, nos deixava jogar bola na casa dela.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
HOTEL DAS ESTRELAS
Um dos primeiros empregos que eu tive e talvez o que mais tenha mexido com a minha cabeça foi trabalhar de porteiro num hotel nos Arcos da Lapa, no centro do Rio. As instalações não eram de mau gosto, mas luxo não tinha muito. Talvez para morar não fosse o mais indicado, apesar de algumas pessoas estarem lá há anos. A maioria só passava uma noite ou duas por diversos motivos. De vez em quando aparecia uma garota com namorado fugida de casa, mas no dia seguinte chegava o pai e um policial para buscá-la. Os melhores quartos pertenciam as cortesãs, como os autores de livros gostavam de chamar as prostitutas, e era com elas que eu conversava quando voltavam das festas cheirando a bebida. De vez em quanto um motorista me chamava para ajudá-lo a tirá-las do táxi, mas para puxá-las escada acima até o quarto nunca aparecia ninguém. Até acompanhá-las ao banho já fui convidado, mas naquele estado eu não me arriscaria perder um emprego que, de certa maneira, pagava a faculdade e me ajudava nas despesas com meus pais.
O dono do hotel era um velho de 69 anos casado com uma garota de 30. Dizem que ela o ameaçou, caso não parasse de dar em cima das hóspedes, até de abandoná-lo a mulher o ameaçou. Ela não o queria surrado por maridos ou cafetões furiosos. Devo o meu emprego a essa mulher que afastando o marido da portaria me permitiu assumir seu lugar. Eu só fui selecionado porque era discreto e poderia guardar os segredos do velho, como me pediu logo depois.
O natal chegou cinco meses depois da minha carteira ser assinada e só então eu tive o prazer de conhecer Dona Alice, a mulher do patrão. Ela era bonita e muito se parecia com minha tia, irmã de mamãe. Só um pouco mais nova. Tinha uma coisa naquela mulher que me secou a boca quando entrou pela porta e mais seca ficou quando ele nos apresentou. Aquele sorriso largo abriu qualquer coisa dentro do meu coração. Muitos dizem que eu minto com facilidade, mas juro que estou falando a verdade. Às vésperas do natal o marido me chamou para jantar com eles, mas como já tinha prometido passar com meus pais, agradeci, mas prometi dar uma passadinha na volta para lhes dar um abraço e avisaria quando estivesse saindo. Só que ninguém apareceu para me receber. Talvez pelo avançado da hora já estivessem dormindo. Na saída vi um carro estacionando na frente do prédio com D. Alice na direção. Tinha levado o marido ao hospital onde tomava soro naquele momento e só voltou por ter visto, no celular do marido, o WhatsApp que eu havia mandado. Pensei em ir ao hospital para vê-lo, mas ela não permitiu. Puxou-me para dentro para, em nome da nossa amizade, brindar a confiança que o marido tinha no meu trabalho e em mim. Ás três da madrugada o celular da moça tocou. Era do hospital avisando que ele estava melhor e esperava por ela. A gente se vestiu às pressas e cada um seguiu seu caminho. Não estou mentindo, mas aquele foi um dos melhores natais que eu já passei. Pena que o marido não aguentasse beber o tanto que diziam beber com as mulheres do meu trabalho.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2021
A MALA
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
FUNCIONÁRIO NOTA 10
Na hora eu fiquei triste. Dez minutos depois, confuso. Meia hora mais
tarde eufórico e agora me sinto assim, como direi, feliz. É isso. Eu fiquei muito feliz e vou falar por que. Era abril e o mundo surfava uma onda sem a menor ideia do tamanho que ficaria meses depois. A ordem era ficar em casa e se possível com a máscara enfiada na cara longe uns dos outros. Abraço, beijo e até mesmo um aperto de mão, nem pensar. Por isso adiantei as férias da Vilma, minha empregada, que só retornaria ao trabalho quando a pandemia passasse, mas ela, desobediente como é, veio me procurar duas vezes nos meses de junho e julho, mas não permiti que entrasse para evitar o diabo da tentação. É duro ver uma empregada com os dotes da minha zanzando dentro de casa. Já é difícil em dias normais, imagina agora que ando chupando o dedo. O dedo e o resto da mão, se me faço entender.
– Quando precisar de você eu te chamo – falei e saí de perto para não me arrepender do que havia falado.
Hoje cedo a campainha tocou e para minha surpresa era a mãe dela. Disse que a filha tinha viajado com o namorado para conhecer os pais dele e enquanto estivesse fora ela, a mãe, viria fazer o trabalho da filha e para evitar qualquer tipo de constrangimento decidiu me falar.
Vilma jamais mencionou
que fosse filha de alguém como aquela mulher. Alta, esguia, seios e lábios
fartos, (seios nem tanto) pernas longas, como as da filha e generosa quando se curva na frente da gente. Nada havia naquela mulher que justificasse a idade que tinha. 45 anos era muito para uma pessoa com tão bela aparência. Os olhos tinham a beleza da noite e a postura digna de uma rainha.
Aquela pessoa não era para trabalhar em casa de família, principalmente
na casa de um velho se ele não admite ter a idade que tem. O risco que se corria era grande, o dela e o meu. Acho que o meu se tornava maior a partir do momento em que passando por mim esfregou na minha cara as suas peras maduras. – Senta aqui, mulher! Vamos conversar – disse sorrindo pra ela. – Eu preciso de um café, onde está o pó, posso saber? – Perguntou com as mãos na cintura. – É claro que não – respondi puxando-a para uma cadeira ao meu lado.
– Sente-se e vamos conversar. Depois a gente pensa em café – falei para quem fingia não me ouvir. Acabei eu mesmo fazendo o bendito café com ela nos meus calcanhares. Quando notamos a confusão que fizemos dentro daquela cozinha começamos a rir. Ela com as duas mãos na xícara e eu com as duas mãos nas mãos dela. Conversamos até o almoço ficar pronto. Depois do lanche da tarde, nós dois, juntos, preparamos a janta. Dona
Wilza não era só a dona de um rosto bonito, como também era dona das pernas que me tiravam o fôlego. A vontade de pedir que ficasse comigo pelo menos àquele resto de noite esmoreceu assim que se levantou, esfregou o vestido para tirar o amassado, curvou-se diante de mim e me beijou a face. Andou até a porta de onde, por cima do ombro, me disse que a partir do dia seguinte serviria o café às 8h em ponto.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
A REVANCHE
Tem gente que não tem noção do ridículo ou não mandaria a mulher me chamar para jantar depois de ter se juntado a outros sequelados pra invadir minha casa, me ameaçar de porrada e dar cabo das minhas bebidas. Eu precisei me beliscar pra ter certeza de que não estava sonhando. Será que esse animal já se esqueceu do que fez comigo ainda esses dias? É claro que eu dei uma desculpa para não ir, mas com aquela pretinha linda, de pernas exuberantes, cheirando a sabonete na minha frente e falando daquele jeito acabei aceitando. Depois que fechei a porta foi que a ficha caiu. E se o marido, aquele covarde, quisesse aprontar de novo comigo? Meu Deus quantas vezes botei minha vida em jogo permitindo que ela, com medo de ficar sozinha, dormisse na minha casa enquanto o valentão viajava? Ah, seja o que Deus quiser. Para quem correu os riscos que eu já corri isso é moleza. Toquei à campainha e uma das convidadas me recebeu. A pretinha tinha ido buscar a mãe, disse a mulher olhando pro dono da casa, e logo estaria de volta. – Ué, a pandemia acabou? – Perguntei pra mim mesmo – me admira muito alguém encher a casa de gente com esse vírus rodando por aí. Cumprimentei os presentes com um sorriso e me dirigi à janela para atender o celular. Pedi desculpas ao dono da casa e prometendo voltar dentro de poucos minutos voltei para casa onde a pretinha me esperava na porta. – Meu marido me pediu para te convidar e eu te convidei, mas quem precisa de um abraço, pelo menos nesse momento, sou eu – disse abrindo o berreiro. Entramos, tomamos um copo de vinho enquanto ela falava. Depois a levei para o quarto para se refazer do choro. Duas horas depois chegávamos a casa dela. Ela na frente e eu um pouco depois. – Parece que o senhor usa o mesmo sabonete que usamos aqui em casa, disse o marido. Pelo menos o cheiro é igual. Qual a marca do seu?, perguntou o covarde. –O nome eu não sei. Ganhei de presente naquele dia que vocês foram lá em casa, lembra? – Perguntei com o sorriso da vingança estampado na cara.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2021
FELIZ ANO NOVO
Quando deu meia noite o povo esqueceu o distanciamento social, as máscaras de proteção e correu para o abraço. Lágrimas, risos, beijos trocados, copo de cerveja e taças de champanhe compartilhados. Branco sorrindo pra negro e filho de pobre brincando com os mais abastados. Valia tudo na passagem do ano da pandemia e, de certa maneira, eu fiquei com inveja da coragem daquela gente que sem medo de ser feliz festejava a despedida de um ano que parecia não acabar mais. E tudo aqui embaixo, no pátio de um prédio na orla do Rio. Meia noite e meia e já não se ouvia os fogos a não ser um aqui e outro acolá enquanto as vozes no pátio já não tinham a mesma euforia. Duas e quarenta da madrugada. O elevador não sobe e não desce, todos se trancam dentro de casa. Cinco horas. Nem uma nuvem no céu da cidade que não dorme, mas cochila como eu diria caso um carro ou outro não cortasse a principal avenida em desabalada carreira. Faltam dez para às seis. É hora do sol se insinuar por cima do muro, mas banhistas não vai encontrar, só gari lhe dará as costas para queimar. Sete e meia. Café quente aqui dentro como o dia promete lá fora. Sete e meia. A praia começa a encher. Também me dou conta dos carros que deixam o prédio com os incautos voltando pras suas casas para, quem sabe, enlouquecer no dia seguinte quando a ficha cair. Onze horas. Água do macarrão fervendo e um prato na mesa já que não espero ninguém. Café, de sobremesa, eu não tomo, mas como uma fruta com os olhos na televisão. Olhos que não se sustentam, não por conta da macarronada, mas pelo hábito da sesta de todos os dias. Às quatorze horas sempre a televisão tem um bom filme na sessão da tarde. Eu o assisto. Um café, que não tomei no almoço, cai bem e inspira quem o toma para passar o resto do dia. Se for domingo, tem futebol às 16h e depois o Faustão e para encerrar o primeiro dia do novo ano: retrospectiva 2020. Tudo o que aconteceu é mostrado aqueles que viverão no ano novo o mesmo que viveram no anterior. Assim foi e assim será o ano na vida de cada um.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
PORTA NA CARA.
Levantei cedo e como de costume deixei a mesa pronta para o almoço. Num balde de prata, cheio de gelo, coloquei 3 garrafas do melhor champanhe no centro da mesa. Quem sabe aparece alguém para bebê-lo comigo. Na cabeceira um prato de porcelana, uma taça de cristal, um garfo, uma faca e um guardanapo branco para combinar com a toalha. Por volta das onze atendi à porta onde as malucas mantinham o dedos enterrados na campainha. É claro que não olhei no visor porque elas, como sempre, o estariam cobrindo com a mão. Coloquei na cara um bonito sorriso, arrumei a gola da camisa e abri a porta pra elas. Mas se alguém pensou que havia mulher vestida de gorro, sandália vermelha e mais nada além disso cobrindo o corpo enganou-se porque não eram mulheres, mas um bando de homens que entrou me empurrando e dizendo coisas que eu não entendia. Enquanto o mais forte se referia a sua própria mulher os demais me atingiam com tapas e pontapés dos quais nem eu nem sei como pude escapar. A barulhada só terminou quando alguém, com o champanhe na mão, perguntou se o que tinha na garrafa era o que dizia o rótulo ou não. Antes que eu afirmasse uma rolha espocou e o cara, já sorrindo a essa altura, foi enchendo as taças na medida que iam surgindo. Taças que eu nem sabia onde as tinha guardado e até que puseram uma na minha mão. Tive sorte porque o medo já tinha mijado nas minhas calças.
– Nunca tomei nada igual – Diziam uns aos outros. A conversa girava em torno da bebida quando outras garrafas foram arrumadas no balde. Do assunto que os levou lá em casa ninguém mais se lembrava, mas eu sim, porque o negão que metia o dedo na minha cara era o mesmo que batia na mulher quando transavam, e foi ela quem me falou na noite que dormiu aqui em casa por ter brigado com ele.
Quando o último saiu da minha casa, carregado, eu levantei a duras penas e fui limpar a sujeira e como estava de barriga vazia peguei uma fatia do peru e levei o resto de volta pro forno. Mas pera aí. De onde surgiu esse bicho que nem cogitar comprá-lo eu cogitei? Certamente trouxeram para justificar o champanhe. Nunca tanto homem entrou na minha casa para beber comigo como naquele natal, a não ser acompanhado de suas mulheres, que por sinal nem deram as caras para me livrar do enrosco. Limpei a sujeita e já ia pro banho quando a campainha voltou a tocar. O som me arrepiou, por isso me arrastei até à porta na intenção de saber o que pretendiam uma hora daquela. Do outro lado diziam que eu embriaguei seus maridos, mas não fui homem o bastante para convidá-las a beber com a gente.(?)
sexta-feira, 25 de dezembro de 2020
PRESENTE DE NATAL
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
PUMA DO MEU CORAÇÃO
James Brow veio três vezes ao Brasil e em uma delas eu fui ao Canecão para vê-lo. Brow inspirou ninguém mais, ninguém menos do que Michael Jackson, Toni Tornado, Tim Maia e outros mundo afora, mas infelizmente o Rei do soul canta e dança só em nossas lembranças.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
UM DIA DE CÃO
segunda-feira, 7 de dezembro de 2020
NA MESMA MOEDA.
segunda-feira, 30 de novembro de 2020
ABRA A SUA QUE EU FECHO A MINHA
Sempre que eu me trocava ela corria pra janela, mas eu era mais rápido e fechava a minha
na cara dela. Com o tempo eu me dei conta do babaca que eu estava me tornando, por
isso decidi que a partir daquele dia a janela do meu quarto não fechava mais e se
quisessem me ver do jeito que vim ao mundo, que vissem. Eu mal dormia pensando nisso, mas ao perceber que tinha gente na janela eu levantava e escancarava a minha. Depois tirava a roupa e calmamente ia pelado pro chuveiro.
Eu não olhava, mas sabia que era visto ou mamãe não me diria pra fechar a janela quando eu fosse tomar banho. Como ficou sabendo se eu nunca falei nada? Não satisfeita da fofoca que tinha feito veio a minha casa perguntar por minha mamãe, mas porque tanto trabalho se está careca de saber que mamãe sai cedo pra trabalhar?, e o
mais engraçado é que foi entrando como se eu a tivesse convidado.
– Meu professor de música disse que no natal eu vou tocar com as meninas
na banda do colégio. Ele falou que gosta de como toco os instrumentos, mas prefere que eu toque o clarinete no desfile. Eu sei que falou isso porque eu não poderia tocar piano ou violoncelo enquanto marcho – falou abrindo a geladeira para
olhar o que havia dentro.
– Você sabia que ele queria me beijar? Ele tem esse hábito, beijar as garotas que a quem ensina música.
– E o que você fez pra ele não te beijar? – perguntei.
– Nada. Não fiz nada – respondeu. – Deixei que me beijasse. Você já beijou alguém?, – me perguntou.
– Claro, claro beijei
– menti sem olhar para ela.
– E como é que se beija? – perguntou fechando a geladeira.
– Ah, sei lá, beijando, ué!, – respondi vermelho como tomate.
– Beijou nada... Se beijou me mostra que eu quero ver – disse
fechando os olhos e com as mãos para trás. Cheguei perto e todo atrapalhado
dei um selinho nela, mas como era cinco centímetros maior do que eu o beijo
pegou no queixo.
– Esse beijo não valeu porque você não beijou direito – disse curvando
um pouco mais os joelhos. Desta vez acertei a boca, mas coisa rápida.
– Você sabe o que um homem e uma mulher fazem quando estão juntos num
quarto? – perguntou me olhando sobre um ombro.
– Claro que sei – respondi enfiando as mãos nos bolsos. Eles
dormem juntos, só isso. – Falei e ela riu da minha cara.
– Sabe nada, seu boboca. Nenhum homem dorme quando se deita
com uma mulher – disse se abaixando para olhar dentro do forno do fogão – Eles fazem sexo – concluiu como se soubesse todas as respostas – se eu falo é porque já vi – ela foi dizendo – Vi meu padrasto fazer com minha mãe porque achavam que eu estava dormindo. Vou te mostrar como é; baixa as calças e se deita aí, nessa poltrona, que eu vou me sentar em cima de você pra te
ensinar – disse puxando o zíper do jeans para baixo e caminhando em minha direção.
– Não, não vou fazer nada disso que você está mandando, aliás, vá
embora! Vá embora ou eu conto pra minha mãe quando ela chegar... (Botei a garota pra fora batendo à porta atrás dela).
Faz mais de 50 anos que tudo isso aconteceu e eu ainda me envergonho quando passo embaixo da janela dela sempre que vou visitar minha mãe. que ainda mora lá. Talvez a maluca já tenha se casado e até filhos formados deve ter. Eu só espero que as crianças não tenham passado pelo que ela me fez passar quando pequeno.
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
PRETA OU BRANCA, QUAL A MELHOR?
– A partir desse momento sou eu quem vai atendê-los – disse o gerente sorrindo. O homem olhou para a funcionária e perguntou o que teria acontecido para um shopping tão importante permitir que um negro assumisse função tão relevante, porque negro, na concepção dele, no máximo consegue vaga de vigia ou de zelador num lugar como aquele. Falando em voz alta o casal virou de costas e foi embora. Celso não resistiu e pela primeira vez chorou diante a presença de todos, não pela ofensa feita a sua pessoa ou por vergonha, mas por perceber que faz tempo o ser humano já vem caminhando a passos largos por esse perigoso caminho.
No dia seguinte os gerentes do Shopping, todos, o aguardavam no estacionamento segurando cartazes que diziam; – Celso, estamos com você, meu irmão!
Celso tirou o mundo de suas costas e seguiu para a loja onde os funcionários esperavam por ele gritando seu nome e cada um com um cartaz onde se lia: “Antes de você nunca os resultados da loja nos fizeram tão bem. Obrigado Celso!”